É preciso sorte com a Aldeia
Há momentos na vida que nos recordam como somos apenas um grão de pó neste vasto universo.
Nos momentos difíceis, se deixarmos o Universo decidir ganhará sempre...o grão mais forte.
Não é por acaso, que entre os maiores agressores estão os próprios familiares. E deve ser por isso que há grãos de pó que preferem a solidão.
Sentem-se mais protegidos. Mas não estão...
E é aí que se vê o valor da Aldeia.
Há outros grãos que se sentem invulneráveis mas também não o são. Pedem que cada um trate de si!
Até que chega o dia...em que se servem da Aldeia.
A Aldeia é feita de nuvens destes grãos de pó estelar. São nuvens imperfeitas. Irregulares. Instantâneas.
A Aldeia somos todos nós.
E é preciso toda uma Aldeia para educar um recém-nascido com “sorte”.
Créditos Finais
Obrigada à progenitora sem-abrigo que o gerou saudável, abrigou e alimentou durante 40 semanas.
E aos aldeãos que, sem o saber, a ajudaram nesse período.
Aos aldeãos que não entendem porque o bebé foi parar à reciclagem; que não conseguem ver a situação no seu todo; que se indignaram e condenaram; e que se os deixássemos, a linchavam em praça pública.
E aos aldeãos que também não entendem, mas que sabem que este bebé é vítima de outra vítima e têm compaixão por ela, e que estão juntos e solidários nestas situações de desamparo dos "filhos da Aldeia".
Obrigado à pessoa sem-abrigo que heroicamente o salvou.
À pessoa com telefone que ligou para o 112. À equipa do INEM que o resgatou. À equipa do Hospital Dona Estefânia que o vigiou.
Ao Ministério Público e ao DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] de Lisboa.
À Procuradoria Geral da República.
À Polícia Judiciária por procurar e encontrar a progenitora.
À Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e à Maternidade Alfredo da Costa.
Ao Presidente da República por ir cumprimentar o sem-abrigo herói.
Ao Tribunal de Instrução Criminal.
Ao Tribunal de Família e Menores de Lisboa.
Ao Estabelecimento Prisional de Tires.
Ao Instituto de Apoio à Criança (IAC).
À Agência Lusa e todos os órgãos de comunicação social.
Aos jornalistas, operadores de vídeo, aos leitores. Às redes sociais.
A todas as pessoas, vivas ou mortas, que ao longo dos últimos 876 anos, contribuíram para a criação destas entidades e instituições em Portugal.
Tem que haver um grupo de anciã(o)s da Aldeia que equilibra as instrumentalizações que os aldeãos fazem uns dos outros.
Sempre foi preciso uma Aldeia.
E sempre será.
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Cenas dos próximos capítulos na Aldeia?
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